Michel Teló - Na revista Época

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Eram quase 17h15 do domingo, dia 18 de dezembro, quando o cantor sertanejo Michel Teló saiu do camarim dos estúdios da TV Globo de São Paulo e se dirigiu para as coxias. Era a sexta vez que ele participava do programa Domingão do Faustão. “Mas a ansiedade é a mesma”, diz, enquanto mexe os braços e as pernas, inspira e expira como se estivesse se aquecendo para uma competição esportiva. Michel lembra um hábito de Fausto Silva: quebrar o script e forçar o artista a improvisar. Faustão entra primeiro e inicia um quadro de humor. Sua voz parece aumentar a adrenalina. Para relaxar, Michel saca seu iPhone e tuita: “Galera já vou entrar no palco do Faustão! Fiquem ligados” (sic). Vira-se para a parede, fecha os olhos, junta as mãos e reza. De volta à realidade, dá uma espiada no palco, volta-se para o repórter e, com as mãos, simula a batida acelerada do coração, como se dissesse “está a mil”. Até que Faustão anuncia:
– Esse cara teve um ano extraordinário. Para vocês terem uma ideia, 4,5 milhões de pessoas assistiram aos 220 shows, média de 20 mil pessoas. Duzentas horas dentro de um avião. O Brasil inteiro cantou e dançou com... Miiiiichel Teló!
Michel está com os olhos cheios de lágrimas quando sai do palco do Faustão, às 17h59. Pelo roteiro original, ele deveria cantar apenas quatro músicas. Foram 17 – contando o inevitável bis de “Ai, se eu te pego”. Ao saber por uma assessora que a audiência com Teló ia bem, Faustão improvisou e pediu que ele cantasse clássicos sertanejos, naquela onda do “quem sabe faz ao vivo”. “Ufa, foi incrível!”, diz Teló, nadando em adrenalina, quando volta ao camarim. “É difícil fazer isso.” E as lágrimas? “Ah, é por tudo o que tem acontecido comigo. Só tenho a agradecer a Deus.”

Não só o Brasil, mas o mundo está dançando com esse cantor paranaense de 30 anos. Enquanto ele se apresentava no Faustão, seu sucesso, a canção dançante “Ai, se eu te pego (assim você me mata)”, atingia a marca de 80 milhões de acessos no YouTube (até o último dia 28, esse número chegou a 93 milhões). É a música brasileira mais vista na história do YouTube, lidera a audiência na Espanha e chegou ao Natal como o sétimo vídeo musical mais visto do planeta – e subindo. A sua frente só havia Adele, Rihanna e Justin Bieber. “Ai, se eu te pego” – originalmente um forró dos baianos Sharon Acioly e Antonio Dyggs, adaptado para o ritmo de batidão sertanejo – lidera as vendas no iTunes, o site de venda de música da Apple, no Brasil, na Espanha, em Portugal, na Itália, Suécia, no Chile e na Argentina. Seu novo trabalho, Michel na balada, já vendeu 68 mil cópias em 15 dias, nos formatos CD e DVD. Seu cachê dobrou nos últimos três meses e está em torno de R$ 150 mil. “Ai, se eu te pego” foi chamada de “Macarena do século XXI” – uma referência ao hit da dupla espanhola Los Del Rio que invadiu as pistas de dança do mundo em 1996, com uma coreografia complexa que misturava rebolado e movimentos robóticos com os braços. “Agora chegou a vez da letra maliciosa e do rebolado discreto de Michel Teló”, diz o produtor musical Luiz Carlos Maluly, responsável pelo maior sucesso de vendas brasileiro de 2011, o disco Paula Fernandes – Ao vivo. “O mundo inteiro está dançando ao som do batidão, essa mistura de vanerão gaúcho e forró nordestino que o Teló inventou.”
Michel Teló é hoje o principal cantor sertanejo do Brasil – e começou a se tornar um astro do pop mundial. Dentro e fora do país, o clipe de “Ai, se eu te pego” ganha a cada dia pelo menos 1,5 milhão de novos acessos. Nos campos de futebol, astros como Neymar e o português Cristiano Ronaldo comemoraram seus gols com a coreografia ao mesmo tempo discreta e ousada de Teló. O tenista Rafael Nadal repetiu os gestos numa festa, depois de conquistar a Copa Davis, e jogadores do time de basquete americano Denver Nuggets gravaram um vídeo em que dançam ao som da música. No Twitter, mais de 432 mil seguidores de diversas nacionalidades disputam a atenção de Teló. “Outro dia mandei um ‘saludos a Argentina’. Logo recebi pedidos de ‘saludos’ do Chile, do Peru e da Colômbia. Quando faço isso, os brasileiros dizem que eu me esqueci deles”, diz Teló. “Mas estou sempre com eles.” Quase. No final de fevereiro, ele embarcará para a Europa, onde fará oito shows em Portugal, na Inglaterra, Espanha e Suíça. Na segunda-feira, depois de aparecer no Faustão, ele gravou, a pedido da Sony, uma versão em inglês para “Ai, se eu te pego”: Oh, oh, this way you’re gonna kill me/ Oh, if I catch you/ Oh my God, if I catch you. A Sony quer testar Teló no mercado americano.
Michel Teló é hoje o representante mais popular do estilo musical conhecido como “sertanejo universitário”, que começou nos anos 2000 e alterou a imagem “caipira” que os sertanejos tinham em grandes centros urbanos – de mensageiros da breguice e do mau gosto. A nova geração, representada no início por duplas como César Menotti & Fabiano e João Bosco & Vinícius, depois nomes como Luan Santana ou Victor & Leo, tratou de mudar tudo. O sertanejo universitário rompeu as barreiras sociais, popularizou o estilo nas classes A e B e chegou aos bairros chiques das grandes cidades do país. Ninguém teve tanto sucesso em traduzir os valores populares para os jovens de elite quanto Teló.
"Michel Teló é supercool. Suas letras são picantes e divertidas, não tem como não gostar dele" Isabela Coutinho, estudante carioca, 17 anos (Foto: André Valentim/ÉPOCA)
Tome o exemplo da universitária Stela Medeiros, de 18 anos, moradora de São Paulo. Ela gostava de Lady Gaga e Beyoncé. Passou a ouvir sertanejo depois que a amiga Giovana Volpato, de 17 anos, moradora do Morumbi, bairro nobre de São Paulo, lhe mostrou as músicas de Michel Teló. “Sempre achei aquela coisa de dor de cotovelo e bota uma coisa muito cafona”, diz Stela. “O estilo do Michel é mais próximo do meu, e a música é de balada.” Também a carioca Isabela Aragão Coutinho, de 17 anos, filha de advogados e moradora de Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro, divide a memória de seu iPod entre Coldplay, Kate Perry e Teló. “Ele é supercool”, afirma. “Suas letras são picantes e divertidas, não tem como não gostar dele. Na balada, todo mundo se levanta quando começa a tocar Michel Teló.” O Rio de Janeiro, berço da Bossa Nova e santuário do samba, costumava ser avesso aos ritmos populares do interior do país. Com Teló, a barreira caiu. “O sertanejo universitário alcançou vários gostos, regiões e classes sociais”, diz o antropólogo Allan de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), autor de uma tese de doutorado sobre o crescimento do sertanejo nas grandes cidades.
De acordo com ele, o sucesso da música se explica por seu caráter híbrido, misturando diferentes estilos regionais e referências de classe. O visual do sertanejo também mudou. Acabou o estilo “agroboy” (calça justa, cinto com fivelas grandes, camisão e chapéu) e começou a roupagem urbana e descolada, inaugurada por cantores como Luan Santana. Teló conta com uma personal stylist, Malena Russo, que cuida de seu figurino. Marcas de luxo, como Dolce & Gabbana ou Armani, oferecem roupas que ainda nem foram lançadas no Brasil para se associar à imagem do cantor. Ele gosta. “Sou vaidoso”, diz. Há pouco mais de um ano, o cabelo “tigelinha” deu lugar ao topete arrepiado, mantido com gel. Nos pés, usa tênis street, veste calças skinny e camisas e camisetas justas, slim fit. “Com a roupa, ele passa a mesma imagem do seu público”, diz Malena. Os olhos azuis e os cabelos loiros (a família Teló vem do norte da Itália) ajudam a compor a imagem de galã jovem classe A. Em setembro, Teló chegou a cantar no Terraço Daslu, polo do luxo de São Paulo.
Para atender o público de elite, os empresários do sertanejo universitário inovaram e abriram casas de show que em nada lembram os antigos galpões onde as duplas sertanejas encontravam seu público. A pioneira foi a casa noturna Villa Country, em São Paulo, onde Teló se apresentou na semana anterior ao Natal. São ambientes que oferecem os mesmos serviços – e atraem a mesma frequência – das melhores baladas de outros estilos musicais. “Para atender um público com maior poder aquisitivo, seguimos o conceito de serviço premium”, diz Charles Bonissoni, fundador da rede Wood’s Bar, com filiais em cinco cidades, entre elas São Paulo, Curitiba e Balneário Camboriú, Santa Catarina. O ingresso não custa menos de R$ 50 – nos grandes shows, o valor é o triplo. Em cada casa há cerca de dez camarotes para 20 pessoas que chegam a custar R$ 4 mil – e são abastecidos com uísque 21 anos, cervejas de marcas importadas e champanhe. “As pessoas querem ouvir sertanejo com estilo, como em qualquer balada.”
São vários os exemplos da pegada jovem de Teló, que o aproxima da classe média urbana. “Humilde residência” conta a história de um universitário sem dinheiro que vive numa república e quer “fazer amor” com uma colega. “Ei, psiu, beijo me liga” e “Eu te amo e open bar” têm gírias e frases de efeito que estão na boca dos jovens. As duas últimas foram escritas por Teófilo Teló, de 34 anos, irmão mais velho de Michel. A primeira ele fez depois de ouvir, numa balada, várias meninas dizendo aos rapazes “beijo, me liga”. “Saí com aquilo na cabeça e no dia seguinte a música já estava escrita.” A inspiração para a segunda, que só tem um verso (Tudo que eu quero ouvir: eu te amo e open bar) veio do Facebook, depois de ver vários anúncios de festas “open bar”. “E quem não quer ouvir essas coisas?”, pergunta. O cantor Daniel, astro da geração anterior do sertanejo, diz: “Fazemos uma coisa romântica. Esses meninos são mais animados, fazem música de balada. Até em trio elétrico eles estão, uma coisa que não fazíamos”.
mensagem_Teló (Foto: reprodução)
O resultado sonoro do sertanejo universitário mistura elementos do pop, do rock, do reggae e até da música eletrônica. “Ciumenta”, de Cesar Menotti & Fabiano, tem bateria, solos de violão e vocais típicos do rock. “Os artistas e seus produtores são fãs de bandas internacionais como o Coldplay ou U2”, diz Daniel Silveira, diretor artístico da gravadora Universal. “Se você colocar as músicas do sertanejo universitário em inglês, não fica com cara de música regional. Fica com cara de pop, não de caipira.” A música “Fugidinha”, de Teló, tem um refrão com “ôôô”, inspirado no refrão da música “Viva la vida”, do Coldplay. “Fui no show deles no Brasil (em março de 2010) e fiquei louco para ter um ‘ôôô’ numa música minha”, diz Teló. Ele também ouve música eletrônica. Daí a inspiração para “Eu te amo e open bar”, a primeira manifestação do sertanejo eletrônico. “Minha realidade é das baladas sertanejas que se espalham pelo país inteiro”, afirma. “Minha intenção é chegar ao público jovem, com letras que falam do jeito deles, com as esperanças e os desejos da galera.”
Com Teló, o sertanejo virou uma música de festa, que atende à demanda por entretenimento da juventude urbana. “Essa mesma aproximação aconteceu no mundo do samba com o surgimento do pagode”, diz o cantor e compositor Marcos Valle, autor de alguns dos maiores sucessos da MPB. “Muitos sambistas viam aquilo como uma decadência do ritmo, mas depois puderam ver que os pagodeiros ajudaram o samba a chegar a ambientes a que nunca havia chegado, renovando e aumentando o público.” Outro ponto positivo, segundo Marcos Valle: “As pessoas voltaram a ouvir música brasileira para se divertir”.
Michel Teló dançando (Foto: Rogério Cassimiro/Época)
“Teló nasce num segmento da sociedade que se legitimou perante a elite e tem seu nicho de mercado”, diz a socióloga Heloísa Buarque de Hollanda, coordenadora do programa avançado de cultura contemporânea da UFRJ. “O interior do Brasil e a periferia urbana – o lugar de chegada de pessoas do campo – ascenderam. Eles influenciam a estética e o consumo de toda a sociedade.” De acordo com ela, é um fenômeno que, além do pagode, repete a trajetória do funk, um universo que sempre foi rico culturalmente, mas era invisível. Com a ascensão da classe C, isso mudou. A periferia tornou-se um polo de inovação na música, no comportamento e na moda. Hoje, diz Heloísa, o símbolo mais evidente disso é Griselda, a Pereirão, protagonista da novela Fina estampa. “Seu gestual, seus valores e seu jeito de ser são das pessoas da periferia. E ela faz sucesso”, afirma Heloísa. Como Griselda, Teló traduz a alma e os valores populares para os brasileiros de todas as classes. A dança de “Ai, se eu te pego!”(confira os passos no canto das páginas desta reportagem) é ousada e apimentada como as coreografias populares – mas sem ser vulgar. Bem vestido, com jeito de bom moço e ar comportado, Teló consegue ser sapeca na medida certa para provocar o riso – mas sem ofender os valores familiares. “Tomo o maior cuidado para evitar o mau gosto”, diz ele.
Quem passa algum tempo com Michel, como todos o chamam, tem a oportunidade de testemunhar esses valores ao vivo. Depois da apresentação no Faustão, Michel e sua turma (Dudu Borges, o produtor musical; Teófilo Teló, irmão e empresário, e Sérgio Moraes, assessor pessoal) vão para um estúdio na Zona Sul de São Paulo, relaxar e comemorar. Na mesa de centro, um balde com garrafas de cerveja, uma tigela com salgadinhos e biscoitos. Michel se senta no sofá e disputa uma partida de futebol com Sérgio no PlayStation 3. Os dois jogam com o Real Madrid. Num momento do jogo, Michel cobra uma falta com Cristiano Ronaldo. “É o cara que mudou a minha vida”, diz. “Não se esquece do Marcelo”, afirma o irmão. Segundo ele, o craque português só usou a coreografia de “Ai, se eu te pego” para comemorar seu gol depois de ter sido apresentado à música pelo lateral esquerdo brasileiro. Nos olhos de todos, é possível notar a euforia com o bom momento. “A gente nunca sonhou que nada disso fosse acontecer, nem de brincadeira falávamos isso”, diz Teófilo. Pouco depois, ele recebe pelo celular a notícia do sucesso da música na Europa: “Recebemos sondagens para fazer shows em Kosovo. Onde é isso?”. Depois de citar os países em que “Ai, se eu te pego” é tocada, Teófilo revela o próximo alvo: os Estados Unidos. “Agora é esperar a Beyoncé te ouvir...”, diz ao irmão.
Michel Teló não vê os pais desde o casamento do irmão caçula, Teotônio, em agosto. “Fiquei meio dia em Campo Grande.” A mulher, Carolina Lago, com quem é casado há três anos, chegou a acompanhá-lo em alguns shows, mas não aguentou a vida na estrada e voltou para a casa dos pais, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. “É desgastante ficar longe, mas decidi que agora é o momento de me concentrar no trabalho.” Ele quer fazer seu pé-de-meia. Depois de perder algum dinheiro na Bolsa, Teló investe principalmente em imóveis. Evita ostentação. Diz que tem vontade de comprar um bom carro, mas desiste quando se lembra dos mais de 200 dias por ano que passa fora de casa. “Carro para quê? Não vai dar para aproveitar.” O único luxo aparente é um relógio Rolex. “Primeiro quero formar um patrimônio, só depois é que vou fazer uma graça.”
CANTOR DA GALERA Michel Teló encontra seu público em show no Villa Country, em São Paulo, no dia 22. “Ele fala a língua do povo”, diz Dudu Borges, seu produtor  (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA  )
A conversa madura tem relação com o sucesso tardio – Teló estourou apenas aos 28 anos, quando iniciou sua carreira solo com o hit “Ei, psiu, beijo me liga”. Durante 14 anos, ele participou de grupos musicais como Santo Chão e Tradição. Teló nasceu em Medianeira, interior do Paraná, numa casa de madeira com banheiro no quintal. Quando tinha 3 anos, a família de três filhos se mudou para Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Prosperaram no comércio, depois nas fazendas. Teló tinha 5 anos quando começou a cantar e aos 7 era acompanhado ao violão por Teófilo, o irmão mais velho. Os dois chegaram a se apresentar em emissoras locais de TV (há vídeos no YouTube). Aos 12, aprendeu a tocar acordeão, instrumento que lhe daria prestígio como músico anos depois. “Fazia aula de piano, mas me apaixonei pela sanfona”, diz. Eram tempos em que o menino franzino mal suportava o peso do instrumento, de quase 8 quilos. “Depois de uma única música, os braços já doíam.” Aos 13 anos, gravou o primeiro disco com o grupo Bailanta, que tocava música regional. Viajava sozinho para o Paraná e Santa Catarina para fazer shows. Tocava nos finais de semana e, na segunda-feira, ia direto para a aula. Anos depois, entrou para a Banda Santo Chão. Dava shows em bailes que duravam até sete horas, em locais com pouca estrutura. “Já toquei com o pé na lama.” Ele se lembra com bom humor de uma apresentação em Nova Alvorada, Mato Grosso do Sul, onde levou um choque com o microfone. “Foi tão forte que a luz da casa enfraqueceu e fiquei com a boca preta”, diz.
Suas raízes garantem a autenticidade de Teló como produto cultural. Ele transcendeu a origem regional – que limitava sua carreira. Mas a cultura gaúcha dos migrantes que saíram do Sul e povoaram o Centro-Oeste ainda dá a sua música uma sonoridade única. Se alguém tentasse inventar Michel Teló numa escola de classe média na Zona Sul de São Paulo não teria conseguido. “Trabalho na essência dele”, diz Dudu Borges. “Se não for sincero, o artista nunca vai estourar.” A origem, a história e os instintos musicais qualificam Teló como uma espécie de porta-voz dos valores da cultura popular junto às elites. Onde quer que esteja, Teló leva a voz anasalada, com forte sotaque gaúcho, de seu pai, que vive em Campo Grande e tem fazenda no Pantanal. “As frases do ‘seu’ Aldo estão sempre na minha cabeça”, afirma. É o que diria qualquer cantor sertanejo desde Pena Branca & Xavantinho. “Seu” Aldo sempre pediu que o filho cantasse músicas que passassem uma boa mensagem. Não foi sem algum peso na consciência que Teló gravou a maliciosa “Ai, se eu te pego”. Ele nem contou ao pai que a nova música estava a caminho, deixou que “seu” Aldo descobrisse sozinho. Uma semana depois que a música foi lançada, o pai ligou ao filho, que antecipava uma bronca. A reação surpreendeu. Feliz com o sucesso, “seu” Aldo baixou a guarda: “Gostei, filho. A música é boa, fala de um rapaz que viu a menina mais linda e, de tão linda, quase morreu”.
A verdade é que, quando ouviu “Ai, se eu te pego” pela primeira vez, Michel sentiu uma alegria imensa. Foi em Cruz das Almas, na Bahia, no dia 25 de junho, quando descansava no camarim, depois do segundo show no mesmo dia. Uma moça da equipe passou cantarolando um forró: “Nossa, nossa...”. A melodia fácil chamou a atenção de Michel, e ele perguntou que som era aquele. “Está tocando em toda a Bahia”, disse a moça. Era uma versão gravada pela cantora Sharon Acioly. “Mostrei para o Téo e para o Dudu, que enlouqueceram”, diz Michel. Ele sentiu que “Ai, se eu te pego” era o sucesso que faltava para o CD que estavam gravando. Eles sabiam que o próximo disco teria de vir com uma música para superar “Fugidinha”. “Precisávamos de algo forte”, diz Dudu. Não houve perda de tempo. No show seguinte, em Palmas, Tocantins, Michel testou a música. Diz que o sucesso foi instantâneo. “Quando terminei, todo mundo continuou a cantar.” Dois dias depois, de volta a São Paulo, Dudu gravou instrumentos e voz. Na segunda-feira seguinte, Teló soltou a música no Twitter. O clipe foi gravado dias depois, num show em Curitiba. “Ensinei na hora a coreografia. No segundo refrão, parecia que a música tinha possuído a galera”, diz ele.
A história de Teló é uma ilustração perfeita do sucesso na era das redes sociais. Ele está simultaneamente no programa campeão de audiência do Faustão e no Twitter. Suas músicas estão nos vídeos produzidos especialmente para o YouTube, em videoclipes internacionais e em clipes involuntários, como as dancinhas dos jogadores de futebol. Ao tuitar dos bastidores, ele praticamente assume uma postura de tiete de Faustão. Ele se emociona com o próprio sucesso e divide a emoção com os seguidores. Sua relação com os fãs não é distante. Não se trata de um mito inatingível, como Roberto Carlos ou Mick Jagger. Teló assume o papel de cada um de nós, usuários do Twitter. Por isso, nos identificamos com ele, nos alegramos por ele.
Teló dorme num hotel quando está em São Paulo. Em março, comprou uma cobertura de 250 metros quadrados no Morumbi, mas ainda não fez a mudança, porque demorou para encontrar um arquiteto que decorasse o apartamento. Ele leva uma vida intensa. Dorme tarde e chama de “manhã” qualquer horário antes das 14 horas. No dia seguinte ao show do Faustão, chega ao estúdio, com cara de sono, às 12h30, para um momento que pode se revelar crucial para sua carreira: finalizar a mixagem da versão em inglês de “Ai, se eu te pego”. Na cozinha do estúdio, antes da chegada do cantor, Silvana, a empregada da casa há cinco meses, faz sala. “No começo não gostava de sertanejo”, diz. “Achava um horror, muito repetitivo. Ai... Mas agora já estou gostando e canto junto.” Silvana, como todos que acompanham Michel, não passa muito tempo sem cantarolar a música. Ele diz que depois de shows, em que chega a tocá-la cinco vezes, fica com ela na cabeça antes de pegar no sono.
Agora, o som que enche o estúdio é a versão em inglês. Teló se senta ao lado de Dudu à mesa de som. “Acho que está ótimo.” A tradução tem uma levada mais pop, puxando para o reggae, com baixo forte e sanfona quase inexistente. Decidem que, depois do almoço, ouvirão a música no carro. “Gosto de testar a música em ambientes reais”, diz Dudu. No almoço, comida chinesa. De sobremesa, biscoito da sorte. “A música alegra o coração e dá mais disposição” é a frase que sai do biscoito de Teló. No carro, Dudu acha que a sanfona está alta demais. “Para mim está perfeito”, diz Teló. Na segunda audição, os dois mexem a cabeça, empolgados. Sonham com o sucesso? “Não existe pressão em estourarmos nos EUA”, diz. “A gente acredita que pode dar certo. Se não der, vida que segue.”
DE VOLTA ÀS RAÍZES Michel Teló aproveita um dia de folga para pescar no interior de São Paulo. Não ter abandonado sua origem ajuda a explicar seu sucesso  (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA  )
Findo o trabalho, Teló joga uma partida de videogame e tem a ideia: “Vamos pescar!”. Larga o controle, pega o telefone e liga para Itamar, responsável pelo pesqueiro Pantanosso, refúgio de jogadores de futebol e cantores sertanejos. É a primeira vez em 2011 que Teló consegue tempo para um passatempo que, na infância, era comum. “Ia sempre com meus pais e irmãos pescar no Rio Aquidauana, no Pantanal”, diz. No carro, anima-se a falar da infância. Não esquece a timidez nos primeiros anos de vida. “Até os 14 anos eu andava olhando para baixo”, diz. “Só mudei depois que meu irmão me falou para levantar a cabeça.” Por isso, até hoje dizem que ele se esforça para tentar agradar a todo mundo. No colégio, além da dificuldade para conseguir beijar as meninas, Teló sofria no futebol. “Não me impunha.” Mesmo cantando em público desde os 7 anos, quando se apresentou na TV mato-grossense com Teófilo ao violão (algumas versões também estão no YouTube), Teló precisou de centenas de shows para ter coragem de encarar o público como faz hoje. “Não conseguia nem erguer os braços para interagir.” Depois de perder a entrada por duas vezes, finalmente o Toyota sai da Rodovia Castelo Branco no quilômetro 68 e percorre a estrada de cerca de 1,5 quilômetro que leva para o pesqueiro. Teló conta vantagem sobre pescarias passadas. “Pescar um dourado de 11 quilos é dirigir a 260 quilômetros com um Audi R-8”, diz.
Pouco antes das 20 horas, Teló segura uma lata de cerveja numa mão e isca de peixe frito na outra. Olha para Sérgio, Eduardo Fernandez, seu professor de espanhol, e Claudio Abuchaim, o diretor de áudio e mixagem do estúdio, e comenta: “A gente se acostuma fácil com essa vida, né?”.Todos concordam, e Teló continua: “Mas fico com peso na consciência de estar aqui pescando numa segunda-feira”. Diz que deveria estar se preparando para o show que faria em São Paulo dali a três dias. “Tenho de pensar na próxima música. Não dá para ficar parado.” Ao lembrar que era a primeira oportunidade de pescar em um ano – e que já tem 140 shows agendados em 2012 –, se dá por vencido. “Eu mereço, né?”




  
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