O corpo da cantora e apresentadora Inezita Barroso está sendo velado na Assembleia Legislativa de São Paulo, na região do Ibirapuera, na Zona Sul, nesta segunda-feira (9). Considerada uma das principais cantoras da música sertaneja brasileira, Inezita morreu na noite deste domingo (8), aos 90 anos, no Hospital Sírio-Libanês.
"Ela foi muito guerreira e desbravadora. Numa época que mulher nem dirigia, ela tinha o carro dela e já ia pra Brasília, pra Bahia dirigindo. Sempre foi a diferente. Morrer no dia da mulher não foi por acaso. Até pra morrer ela escolheu uma data marcante", disse a filha Marta Barroso.
O velório foi aberto ao público após ficar reservado apenas para a família durante 30 minutos. O sepultamento está previsto para acontecer às 17h, no Cemitério Gethsêmani, no Bairro do Morumbi, Zona Sul da capital paulista.
Inezita estava internada desde 19 fevereiro e completou 90 anos no último dia 4 de março. Ela deixa uma filha, Marta Barroso, três netas e cinco bisnetos.
"Eu gostava muito de assistir ao programa dela. Até dançava dependendo do ritmo da música. Gostava do jeito, das graças dela, das músicas. As minhas músicas preferidas são a [moda] da pinga e a da mala", disse o jardineiro aposentado josé dos Reis Ferreira, 68, mineiro da região de Diamantina, que foi se despedir da cantora.
A cantora é considerada uma das principais cantoras da música sertaneja brasileira. É reconhecida como a mais antiga e mais importante expressão artística da música caipira no país. Ela nasceu em São Paulo e fez carreira no rádio e na televisão, além de passagens pelo cinema e teatro, onde atuou e produziu espetáculos musicais. Em novembro de 2014, ela foi eleita para ocupar uma das cadeiras na Academia Paulista de Letras.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi ao velório e afirmou que Inezita era uma "figura admirável".
"Quando ela fez 88 anos fizemos uma homenagem e o segredo de sua vida longa e feliz é que ela amava música caipira, gostava do que fazia e fazia bem feito".
O governador ainda recitou um verso da "moda da pinga". "'A marvada pinga que eu me atrapalho. Não bebo de uma só vez porque acho feio. Tomo o primeiro gole até o meio e é no segundo que eu desvazeio'".
Antes, por meio de nota de pesar, o governador afirmou que esteve com ela no palco do programa "Viola, Minha Viola".
"Durante 35 anos, as manhãs de domingo no interior de São Paulo e do Brasil tiveram a sonoridade de Inezita Barroso no comando do "Viola, Minha Viola", o mais antigo programa musical da televisão brasileira. Neste domingo à noite, com muita tristeza, nos despedimos dela. Paulistana da Barra Funda, Inezita foi compositora, cantora, atriz, violeira, pesquisadora, professora e doutora honoris causa de folclore e da música caipira. Há dois anos, tive a honra de estar com ela, no palco do "Viola", para a emocionante festa musical em que o país inteiro comemorou seu aniversário de 88 anos e sua grande obra. Naquele dia, ela explicou o segredo de sua vida longa e feliz: amava a música caipira, gostava do que fazia e de fazer bem feito. Ao recuperar o nosso folclore, Inezita Barroso preservou um ativo inestimável, um tesouro que faz de nós, brasileiros, uma nação: nossas raízes. A partir de agora, São Paulo e o Brasil retribuirão esse legado de amor com imensa saudade", diz a nota.
Para a neta Paula Maia, arista plástica, a avó nunca trabalhou por dinheiro. “Minha avó era uma pessoa incrível. Ela foi pioneira na carreira. Trabalhou e lutou muito pelo que ela acreditava. Sempre foi muito autêntica. Não era por causa de dinheiro que ela cantava e tinha o programa. O que ela gostava é da música de raiz, da música regional. Ela valorizava muito a cultura brasileira e tentou divulgar o máximo possível”, disse.
O cantor Donizeti disse que se apresentou diversas vezes no programa de Inezita. "Meu respeito e minha tristeza sao muito grandes. Ela conseguiu provar a força da mulher brasileira. Ela ajudou muita gente, muitos artistas novos. Ela vai deixar saudade", afirmou.
O músico João Bosco Batista, que trabalhou por quase 18 anos com Inezita, esteve nesta manhã no velório. “Inezita era sensacional. Muito talentosa. Tinha muito conhecimento, muito amor pelo povo, pela terra, pela arte. Ela tinha um carinho muito grande com os poetas caipiras. Era uma faculdade para nós”, contou o músico. “Ainda pequena estudou piano. Depois ela teve interesse em começar a pesquisar sobre música ao ver as rodas de violeiros nas fazendas”, observou.
A dupla sertaneja Lourenço e Lourival lamentou a morte de Inezita. Eles disseram ter gravado no domingo uma homenagem pelos 90 anos da apresentadora. "Eu não sei agora pra fazer show como é que a gente vai fazer sem a Inezita anunciar no programa dela. É uma peça que quebrou e não tem reposição", disse Lourival.
Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por
influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares. Começou a cantar e a estudar violão aos 7 anos.
Formada em Biblioteconomia na Universidade de São Paulo (USP), Inezita foi uma grande pesquisadora da música caipira brasileira. Por conta própria, percorreu o interior do Brasil resgatando histórias e canções. Reconhecida por este trabalho, foi convidada a dar aulas sobre folclore em uma universidade paulista. Pelo seu trabalho como folclorista, e por ser uma enciclopédia viva da música caipira e do folclore nacional, recebeu o título de 'doutora Honoris Causa em Folclore' pela Universidade de Lisboa.
Foi a primeira mulher a gravar uma moda de viola e era considerada a grande dama da música de raiz.
Na televisão, sua carreira começou junto com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois, passou pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar por mais de 30 anos o "Viola, Minha Viola".
Inezita Barroso - Morre a cantora e apresentadora
segunda-feira, 9 de março de 2015
Postado por
Cezar de A Becker
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