Lauana Prado - Chega ao topo após 14 anos de tentativas, 3 reality shows e uma mudança de nome

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020


Estirado no chão, um cãozinho quase é pisado várias vezes no camarim do Centro de Tradições Nordestinas, na Zona Norte de São Paulo. "Cuidado com o Patz", avisa Lauana Prado, dona do cachorro. Ela também é dona de “Cobaia”, música mais ouvida no YouTube brasileiro em 2019.

O simpático pet da raça spitz anão foi batizado com o nome do remédio que mudou a vida da cantora sertaneja de 30 anos:

"É meu remédio de insônia, o nome comercial do Zolpidem. Eu preciso tomar. Eu fiz consulta com psiquiatra por conta da questão do sono. Eu sou muito diurna e em 2019 comecei a viajar muito. A rotina é muito complicada pra mim. Não me deu efeito colateral nenhum. Eu durmo feito um neném.”

O G1 acompanhou a cantora goiana na van que a levou de sua casa, um imponente apartamento próximo ao aeroporto de Congonhas, até o lugar de seu 152º show em 2019.

Mayara Lauana Pereira e Vieira falou sobre sucesso, mas também sobre a vontade de desistir da carreira após três reality shows, uma mudança de nome e quatro de cidade. Foram 14 anos de tentativas antes de estourar, no ano passado.

Ao chegar no camarim, onde come meia dúzia de sushis, de pé mesmo, tem orgulho de falar para todo mundo que conseguiu "dormir o dia inteiro".

No resto do papo, parece menos espontânea e mais escolada do que outras estrelas do feminejo, o sertanejo de letras com sofrência empoderada. A falta de malícia de Marília Mendonça, Simone & Simaria ou Maiara & Maraísa não tem nada a ver com ela.

Diferentemente de suas colegas, Lauana parece que pensa bem antes de falar. A voz só fica menos empostada quando o assunto é o Patz. O cão ou o remédio.


Quantos shows você faz por mês?
“Eu sempre tento manter um limite de 17. Eu seguro bem.”
Já vi gente que faz menos, 12, mas já vi gente com 25 ou mais...
"Eu não faço isso de jeito de nenhum.”
Já fez?“
“Cara, já. A logística é uma coisa que pesa muito. No tempo de barzinho, era diferente. Uma coisa é ficar em uma cidade só, daí você faz 20 shows tranquilo, não é tão pesado quanto 10 viajando. Cinco anos atrás, minha energia era outra também. Então, penso no futuro... Quero me preservar, mas sem deixar de trabalhar. Quero manter minha saúde mental e física.”

Eternamente caloura?

Lauana era chamada por outro nome em sua fase de shows de calouros. Mayara Prado participou de dois programas do Raul Gil (“Jovens Talentos”, em 2011, e “Mulheres que Brilham”, de 2014).

A vitória no segundo rendeu contrato de um ano com a gravadora Sony. Antes, foi semifinalista do “The Voice”, em 2012.

Ela diz que já “perdeu oportunidades” por isso: “Tem essa coisa de você cansar a imagem. As pessoas do mercado me diziam: isso aí não dá certo, artista deixa de ser novidade, você meio que vira carne de vaca, que eles chamam, popular demais.”

Mas foi por meio dos programas de TV que ela conheceu cantores e produtores que seriam importantes para a fase Lauana.

Ela morou e fez faculdade em São Luís, nasceu em Goiânia e passou a infância em Araguaína, no Tocantins. Em 2014, a vinda para São Paulo foi, segundo ela, “dar um passo pra trás pra dar dois pra frente”. “Eu fazia noite, ganhava um valor legal, R$ 5 a 6 mil por mês. Tive que abrir mão desses contratantes.”

Nas entrevistas após o estouro de “Cobaia”, quase sempre conta que pensou em desistir da música:

“Essa coisa da resiliência, você se depara com um possível desestímulo, com aquela coisa do ‘nossa, será? melhor não continuar’. Era difícil você lidar com o desejo de fazer acontecer versus a impossibilidade por falta de grana pra investimento, de questões com empresários. Durante uns 11 anos, eu tive muita dificuldade.”

Se não continuasse, seria publicitária. Ela se formou em Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Maranhão. “Fiz estágio e trabalhos esporádicos, mas eu já cantava. Trabalhei com jingle, campanhas e na área de redação publicitária... A faculdade me ajudou a ler teleprompter, a saber me apresentar, me ajudou pra caramba. Alguns artistas não conseguem se comunicar."

100 fotos em uma noite
Fazer show não é só deitar no camarim, esperar a hora do show, ir lá cantar e ir embora. Na noite do show visto pelo G1, em São Paulo, Lauana tira mais foto do que influenciador de Instagram.

No fim da maratona de selfies, beijinho e poses, ela se joga no sofá e grita por Patz, o cachorro. "Nem começou o show e já tô cansada. Acho que atendi umas cem pessoas."

O atendimento a fãs e todo tipo de gente demora mais de uma hora. Ela tem que explicar quem ela é para uma criança de três anos e aceitar pedidos estranhos como o de um cara que quer pedir a noiva em casamento (e fica falando de 30 em 30 segundos que o anel que comprou é “caro demais”).

Ela grava stories para o Instagram da atração de abertura (Fernanda Salgado, com quem competiu no “Jovens Talentos”) e para a casa de shows. Tem gente que diz que está fazendo aniversário (a equipe canta “Parabéns pra você” rapidamente) e uma moça que entrega à ídola uma sacola cheia de pequis.

É como assistir ao programa “A Praça é Nossa”, sendo Lauana uma Carlos Alberto sertaneja. "É pequi que você quer, é pequi que você vai ter", diz a tal moça, repetindo a frase como se fosse um bordão humorístico. Outra presenteia com uma garrafa de vinho, entre as bebidas favoritas de Lauana. Está bem informada: Lauana toma duas tacinhas antes do show.

Um menino erra o cumprimento e beija o cílio da cantora. “É foda”, diz Lauana, coçando o olho. Uma fã mostra uma tatuagem realista nas costas, com o rosto da ídola. Chorando, ela se justifica: "É que eu te amo tanto".

De Coldplay e Guns a 'Milu' e 'clássicos'
O show de Lauana começa com “Cobaia”. E termina com “Cobaia”. Na verdade, começa com um discurso meio autoajuda, que pergunta “Você é de verdade, você tá aqui de verdade?”

Quem está ali de verdade, certamente, é a bachata, ritmo latino derivado do bolero. Quase todos os arranjos têm bongo e sanfona, mesmo para músicas que possam parecer distantes como “Quando a chuva passar”, famosa com Ivete Sangalo, ou “The Scientist”, do Coldplay.

Enquanto apresenta sua música de letra mais séria, “Tem que respeitar”, uma amiga bem na frente do palco finge estar cantando com um microfone de uma TV local. Lauana ri ao cantar versos como “Não é porque usa roupa curta / Que o coração dela é vulgar / Não é porque se entrega de primeira / Que ela não é pra casar”.

O set tem outros covers como “Meu Abrigo”, do Melim; “Bem pior que eu”, da Marília Mendonça; “Péssimo negócio”, do Dilsinho; “Milu”, do Gusttavo Lima; e “Ferida Curada”, de Zé Neto & Cristiano. Ela canta ainda “Is this love”, do Bob Marley, quando um de seus dreads enrosca em uma das cordas do ukulele.

O show é completado por músicas próprias (como a nova “Viva-voz”) e versões de Chitãozinho & Xororó, Zezé & Luciano, João Paulo & Daniel e Leandro & Leonardo. Os “clássicos” são interrompidos por uma pergunta: “Quero convocar a legião de roqueiros do CTN. Quem é roqueiro aí?”

É a hora de uma sequência pop rock com um quê de Alok. Rolam trechos de “Start me up”, dos Rolling Stones, “Sweet Child o mine”, do Guns N’ Roses, “Hotel California”, do Eagles, e “Malandragem”, de Cássia Eller. Em todas, Lauana toca guitarra e balança os cabelos.

Os cabelos já tiveram mais dreads. Hoje, são mais discretos. Ela diz saber que o visual a fez se destacar em relação a tantas cantoras. Esse look chamativo é completado por cada vez mais tatuagens. Um dos braços já está quase “fechado” e ela quer começar a tatuar o outro.

Me chame pelo outro nome
Quando se mudou para São Paulo, em 2014, bateu na porta de estúdios, dentre eles o de Fernando Zork, produtor e parceiro do cantor Sorocaba. Também procurou por Dudu Borges, Ivan Miyazato, William Santos e outros. Com ajuda deles, emplacou músicas com vários artistas, de Thiaguinho a Roberta Miranda.

Em vez de entrar para o escritório de Fernando, resolveu abrir o próprio. O Escala1 existe há dois anos e permite que ela dê a palavra final sempre. "É a melhor coisa da vida."

Mesmo assim, Fernando foi importante na repaginada da carreira. Além de ser produtor musical, sugeriu que mudasse de nome. Ela diz que a troca teve um pouco a ver com o estouro de Maiara & Maraísa, Naiara Azevedo e Simone & Simaria.

"Quando eu surgi como Mayara Prado, essas artistas existiam mas em outra proporção. O trabalho delas acelerou muito mais rápido do que o meu", reconhece. "Eu passei a ser 'a outra Maiara'. São nomes similares."

Lauana foi o nome escolhido por ser "muito exclusivo, diferente". "Existiram críticas de pessoas que me conheciam como Mayara Prado. Tem gente que acha o nome feio."

A mudança de nome veio com a mudança de visual, com dreads e mais tatuagens. "Antes, eu segurava um pouco mais, por conta do preconceito. No começo, eu sentia um olhar diferente. Por ser mulher, por sair do padrão, mas hoje eu entendo como algo positivo. É uma marca minha."

"Meu trabalho tem ganhado destaque por ser diferente, sair um pouco do que já tem. Não adianta eu querer fazer o que a Marília faz, a Marília é incrível no que ela faz. Ela é rainha do que ela faz. Então, se eu fizer algo que for parecido com ela, eu não vou ter o meu nicho, né?"

Aceita esse emprego de 'Cobaia'?
Lançada no fim de 2018, "Cobaia" é cria do compositor baiano Bruno Caliman. Ele é o autor de "Domingo de manhã" (Marcos & Belutti), "Camaro amarelo" (Munhoz & Mariano) e "Escreve aí" (Luan Santana).

Após ser negada por outros artistas, Fernando pensou em gravá-la com Sorocaba. Mas acabou mostrando para Lauana. "Eu achei genial. A versão do Caliman era mais romântica, mais Raul Seixas. Eu trouxe pra minha realidade, para uma versão feminina." Ela e Fernando mudaram parte da letra, mas não assinam como compositores.

Por que não assinou com ele?
“Ah, na verdade, tivemos um acordo. No que eu poderia te expor é isso.”
Ele deu exclusividade em troca de assinar sozinho?
“Isso. Exatamente isso.”
Ah, até que é normal... São só negócios.
“Sim. Business.”

Logo que virou hit, "Cobaia" foi criticada por ter na letra uma mulher submissa que aceita "o emprego de cobaia" de seu amante: pegando toalha e tudo mais.

"A gente teve receio de como a letra ia chegar para o público. A interpretação da maioria sempre foi mais no sentido da sagacidade de você conquistar alguém se colocando fantasiosamente submisso. Na verdade, você está curtindo a relação daquele jeito. Tem feminista que bateu o pé no começo dizendo que não era legal. Mas outras mulheres se sentiram representadas."

Que voz rasgada é essa?
"Eu tenho uma anatomia das cordas vocais muito exclusiva. Isso me dá esse rasgado, me dá essa rouquidão."
Sim, e diferentemente de outros cantores, falando e cantando sua voz é muito parecida...
"Isso é uma coisa que é muito nítida, né? Às vezes, eu estou em um lugar público e passo despercebida, mas quando eu abro a boca sabem que sou eu."
Tem algum cuidado diferente por ter essa voz mais rasgada?
"Exige muitos cuidados. Eu faço fonoterapia semanalmente. Inalação, eu faço todos os dias. Faço exercícios vocais. No começo, a demanda me prejudicava um pouco mais. Hoje, eu tenho uma vivência maior e tem esse acompanhamento clínico muito próximo."

Em 2018, Lauana ia à academia quatro vezes por semana. Agora, vai quatro vezes por mês. Só quer saber de dormir, mas também tem outros hobbies.

"Eu gosto de ler. O último livro que li foi 'O poder da presença' [da psicóloga Amy Cuddy]. Me deu muita bagagem até pro meu trabalho. A gente trabalha com linguagem corporal. Mostra o quão importante é a gente estar de corpo e alma presentes nas atividades que a gente exerce."

Lauana também gasta seu tempo livre vendo "palestras motivacionais" do TED Talks. "Elas falam de assuntos atuais, principalmente sobre questões de internet versus vida real. Acho sensacionais. Como são curtas, eu consigo ver no aplicativo. Palestras que falam sobre questões de vida financeira, enfim."

Como será 2020?
Nos próximos meses, Lauana quer uma rotina menos corrida. "Vivi algumas coisas em 2019 que me deram bagagem e vou conseguir distribuir melhor o meu tempo. Vou conseguir me organizar melhor. As coisas vão acontecendo, vão precisando de você... Quando você vê, você não tem férias, não tem tempo pra você, não tem tempo para escrever, que é uma coisa que eu preciso."

Após estourarem de vez, a maioria dos artistas do sertanejo deixa de compor. Mas Lauana quer fugir da regra. "É importante continuar compondo. Porque a personalidade da música está nisso. Se você solta a rédea, você fica na mão de compositores que são competentíssimos, mas não são você. Você não consegue dar continuidade a uma personalidade artística."

Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2020/01/22/lauana-prado-chega-ao-topo-apos-14-anos-de-tentativas-3-reality-shows-e-uma-mudanca-de-nome.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1

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